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Peek Acuity: como apps podem auxiliar o diagnóstico de problemas de visão


O uso de inteligência artificial (IA) e machine learning tem sido implementado em diversas áreas de produção e serviços. Atreladas à medicina, por exemplo, essas ferramentas podem constituir uma forma de buscar padrões e fornecer diagnósticos médicos. Caso você ainda ache isso estranho, a gente explicou aqui no Engenharia 360 como IA pode detectar doenças. Mas agora, com o exemplo do app Peek Acuity, vamos ressaltar como essas tecnologias não se relacionam exclusivamente a uma abordagem futurista, mas ao auxílio de questões aparentemente simples, mas que podem gerar efeitos enormes em escala local, principalmente de uma perspectiva da Engenharia humanitária.

Estudando as causas da perda de visão nas pessoas em países desenvolvidos, Andrew Bastawrous, oftalmologista da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, mudou-se para o Quênia em 2012, para investigar no local o que estava acontecendo. O problema era simples: a maioria das pessoas com visão deficiente precisava apenas de óculos. A solução, porém, era mais difícil, considerando que nestes locais, os cidadãos geralmente têm pouco acesso aos serviços de saúde. No Quênia, por exemplo, existem apenas cerca de 100 oftalmologistas para atender uma população de quase 50 milhões! Mesmo quando as pessoas conseguem fazer um exame oftalmológico e obter uma receita de óculos, muitas não têm condições de comprar um par.

Em áreas onde doenças como AIDS, malária ou tuberculose são comuns, e frequentemente fatais, a correção de problemas de visão é uma prioridade baixa. No entanto, essa falta de óculos custa à economia global mais de US $ 200 bilhões por ano devido à perda de produtividade. Além dos benefícios mais amplos que os óculos trazem, incluindo taxas mais altas de alfabetização e melhorias na segurança no trânsito, a correção da visão de uma pessoa pode aumentar sua renda em até 20%, melhorando sua produtividade e permitindo que realizem trabalhos qualificados.

Em sua investigação, Andrew Bastawrous notou que muitas das pessoas que ele encontrava com condições oculares fáceis de corrigir nunca haviam consultado um médico a respeito disso. Aqueles em situações mais vulneráveis viviam em áreas remotas, longe das clínicas de saúde. Mas o que Andrew também percebeu foi que muitas destas pessoas tinham acesso a smartphones. Curioso, não?

Aproveitando que as pessoas tinham esse contato com a tecnologia, Bastawrous aplicou o machine learning em um app chamado Peek Acuity, que segue os princípios de um exame de visão que seria conduzido por um especialista. O aplicativo foi desenvolvido através da Peek Vision Foundation, contando com a ajuda de profissionais que permeiam desde as áreas de medicina, desenvolvimento de software, engenharia biomédica, comunicações e administração.

DIAGNÓSTICO

O Peek Acuity se baseia no diagrama de olho de Snellen, um teste de acuidade visual desenvolvido em 1862, com o qual você muito provavelmente já teve contato em um exame oftalmológico convencional. Basicamente, é aquele teste em que a pessoa que está sendo examinada é solicitada a identificar letras em linhas em uma escala de olho de Snellen montada na parede para medir a nitidez da visão. O tamanho das letras é diminuído nas linhas inferiores. Pessoas com problemas de visão tendem a confundir letras de formato similar, como F e P, ou C e O. Esse teste, quando acoplado a um exame do olho, é capaz de detectar problemas comuns, tais como miopia, hipermetropia, etc.

Como muitos dos que ele avaliou eram crianças pequenas ou adultos que não sabiam ler, foi utilizada uma versão simplificada do teste de Snellen, que se baseia apenas na letra E. Funciona assim: os “braços” da letra seguem uma das quatro orientações (para cima ou pra baixo, para esquerda ou direita). Uma a uma, as letras aparecem na tela do celular, e a pessoa que está sendo testada indica a direção em que percebe para onde o E está apontando. O vídeo abaixo mostra o app sendo usado:

ESCALA DE APLICAÇÃO

Para validar o aplicativo, foi conduzido um estudo em 20 mil crianças de 50 escolas no oeste do Quênia. Os alunos de metade das escolas foram selecionados para fazer o exame de visão convencional, e a outra metade foi avaliada usando o aplicativo. Cerca de 5% dos alunos do grupo de aplicativos e 4% dos do grupo de quadros convencionais foram encaminhados a um especialista para um exame profissional.

O Peek Acuity foi desenvolvido, portanto, para que pudesse ser usado por não-especialistas, com o objetivo de atingir grande número de pessoas. Nesse sentido, voluntários com um treinamento básico são capazes de viajar para áreas afastadas e testar a visão de comunidades inteiras e, em seguida, encaminhar os indivíduos com visão ruim para um especialista. Dessa forma, o grupo limitado de oftalmologistas do Quênia teria que examinar apenas as pessoas realmente necessitadas.

Os pais de alunos com problemas de visão identificados no app receberam um cartão postal mostrando uma visão borrada do mundo, ao lado de uma imagem do que eles deveriam ser capazes de ver. A equipe Peek Acuity também enviou mensagens de texto aos responsáveis, lembrando-os de que as crianças precisavam de mais cuidados. Como resultado, mais de 50% das crianças com problemas de visão que foram identificados usando o aplicativo compareceram a uma consulta de acompanhamento, em comparação com apenas 22% daqueles no grupo de diagnóstico convencional.

As conquistas associadas ao Peek Acuity mostram que há diversas abordagens possíveis para o desenvolvimento de tecnologia, abarcando, inclusive, noções aparentemente simples, mas que podem fazer uma diferença enorme em populações vulneráveis.

Fonte: Kamila Jessie

Site: https://engenharia360.com/peek-acuity/

Foto: peekvision.org

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