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BRUMADINHO


O cantor e compositor José Augusto, ao lançar em 1973, o seu primeiro disco “De que vale ter tudo na vida.”, não imaginaria que o mesmo, sendo devidamente parafraseado e enfocado, ilustraria os sentimentos de tristeza, decepção e impotência, que tomou conta de nosso coração:

Nada mais importa agora Você foi embora Eu fiquei tão só Sigo sem saber meu rumo Eu não me acostumo Sem você aqui

De que VALE ter tudo na vida De que VALE a beleza da flor Se eu não tenho mais teu carinho Se eu não sinto mais teu calor...

Ao depararmo-nos em pleno início de Ano Novo de 2019, com a Tragédia Previamente Anunciada, dando azo ao que escreveu em seu livro, a jornalista Cristina Serra, “Tragédia em Mariana - A história do maior desastre ambiental do Brasil”, onde tudo se repete, em verso e prosa e por que não dizer, passam pelas memórias dos brasileiros o mesmo filme, com os repetidos autores, num mesmo cenário e, pasmem, com o mesmo enredo, onde não há um final e, muito menos, feliz.

Perguntamo-nos, então: “O que VALE a VALE? De que VALE a VALE? Ou, quanto VALE uma VIDA? Quantos metros cúbicos de resíduos minerais são necessários para, envolvendo um corpo com essa lama gosmenta, arrastar uma vida à inanimidade?

O papel das entidades de classe nesta complicada questão de irresponsabilidade visceral, mais especificamente os CREAs brasileiros, no caso, o do Estado de Minas Gerais, é que se proceda a uma fiscalização acurada e precisa, visando apurar as questões técnicas mais relevantes no procedimento do acúmulo destes resíduos de mineração em barragens que se

revelaram instáveis e de nenhuma valia a não ser a de uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento. Dito de outra forma, um enorme acúmulo de Energia Potencial, prestes a transformar-se em Energia de Movimento, varrendo e enterrando o que houver pela frente.

Neste momento o mundo está totalmente focado nas buscas dos possíveis sobreviventes e das pessoas desaparecidas no trágico rompimento da Barragem de Brumadinho no estado de Minas Gerais.

Não esquecendo esses trabalhos de buscas não podemos deixar de cobrar os verdadeiros responsáveis pelos projetos e pela execução das barragens, lembrando que há três anos tivemos o rompimento de outra barragem e até o presente momento os habitantes de Mariana ainda não foram totalmente ressarcidos de seus bens e prejuízos.

A Vale com certeza tem em seu quadro de funcionários e diretores, pessoas técnicas e qualificadas, para darem uma resposta à população e aos órgãos competentes pela fiscalização.

Por outro lado, se faz necessária uma investigação junto aos órgãos responsáveis pela análise e aprovação dos projetos das barragens e se estas liberações eram feitas por técnicos capacitados ou não.

Enfim, onde não há transparência é sinal que algo estranho existe, e onde não há punição para os envolvidos significa que o ser humano não teme nada e portanto não tem interesse em trabalhar honestamente, embora não seja seu dever e, sim, obrigação.

Advindas destas considerações, esperamos que realmente hajam a transparência dos fatos, bem como, a responsabilização dos verdadeiros culpados; ademais, medidas corretivas e preventivas fazem parte do rol da tomada de decisões, visando restabelecer a ordem e o bem estar de todos os atingidos por esta tragicomédia. Lutemos para ter tudo na vida, vamos contemplar a beleza da flor...

Eng.º José António Picelli Gonçalves

Engenheiro civil e presidente da AEAS (Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sumaré)

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